terça-feira, 31 de maio de 2011

VAI TUDO BEM...


Portugal está com uma

taxa de desemprego de 12.6%.

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AOS MESMOS

De insípida sessão no inútil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gótica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.

Taful que o português não lhe entendia,
Nem ao resto da cômica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.

Dos sócios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovões, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.

Fez na calúnia vil cruéis ensaios,
E jaz com grandes créditos a obra
Entre mãos de marujos e lacaios.

Manuel Maria Barbosa du Bocage
Rimas

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

VOTO ÚTIL

CONTRA O PS DE SÓCRATES NOS DISTRITOS COM POUCOS ELEITORES

Portugal 2011

© Juvenal Paio

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para ver melhor

A Educação do meu Umbigo

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OS ERROS

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das Coisas

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domingo, 29 de maio de 2011

VIVER...

O crescimento da mendicidade é diretamente proporcional ao empobrecimento. E como empobrecemos diariamente, o aumento do número de pedintes é inevitável.


Quem passa, por exemplo, nas ruas, não pode deixar de sentir vergonha por ser português.
Para além dos sem abrigo, deficientes, vendedores de pensos rápidos e afins, dos pobres que já desistiram até de pedir e se deixam inertes nos passeios, dos artistas de rua, um eufemismo para designar novos pobres que estendem a mão
à caridade, existe agora uma nova classe de gente em dificuldades.
Pessoas razoavelmente apresentadas, que abordam quem passa pedindo ajuda para comer.
São muitos e não se identificam pela aparência, apanhando desprevenido quem passa, estendem um rol de lamúrias que incomoda e desencoraja a caminhada naquela rua.
Não se anda 30 ou 40 metros sem que não sejamos abordados por alguém que pede.

O banco alimentar, lançou ontem um novo peditório.

São milhares de pessoas às portas dos supermercados, estendendo um saco a quem passa. Também incomoda. Física e moralmente.
Milhares de pessoas esperam que os voluntários daquela organização peçam nas ruas, a sua próxima refeição.
Já nem se dão ao trabalho de ajudar no peditório.
Usufruem dele.
Habituámo-nos a viver assim.
Sem expectativas, sem anseios, sem ambição, sem esperança.
Habituámo-nos a ser mendigos.
Por conta própria ou, alheia.
Perdemos a dignidade de viver do produto do nosso trabalho.
São muitos milhares de portugueses, pedindo para si ou para os outros, incapazes de um gesto de revolta contra este sistema que acabará por fazer de todos nós, pobres.
Como se de uma fatalidade se tratasse, como se houvesse qualquer justiça social na caridade.
Se esta gente que se levanta para ir pedir à porta das mercearias, se levantasse para exigir contas a quem fez de nós pobres, teríamos a oportunidade de nos afirmar com a dignidade que deve assistir às pessoas.
Viver do nosso trabalho, num país limpo, governado por gente séria.

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DONA ABASTANÇA

«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca
Poemas para Adriano

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sábado, 28 de maio de 2011

CHEGA!

O povo está farto de dar par este peditório!

Vão pedir à classe política que ao longo dos anos tem roubado o povo do distrito de Portalegre.

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FOME

Há rastos de lume nos olhos
de poeira erguida ao redor dos passos
de gente que se levanta
e não come e não dorme e se consome
enquanto os dias à beira da água parados
bebem o tranquilo pousar das aves
enquanto as almas crescem como trigo
dentro de cada gesto e explodem
o fogo devora
o fogo é isto no fundo dos olhos


Pires Laranjera
Vinte e seis poemas iniciais

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

F... E NÃO HÁ PACHORRA


Deve ser do calor ou da falta de paciência para tanto imbecil.
Estou farto de arrancar ervas.
Nascem até no cimento.
Amanhã ou depois, estão lá novamente. liga-se a televisão, dá-se uma volta pela net e as novidades são as do costume. E não há pachorra.

Os pantomineiros, falam de merdas que não interessam rigorosamente nada ao estado da nação.
Politiquices de comadres, almoços e jantares de campanha, sondagens, bocas, disputando alegre e irresponsavelmente a manutenção da vida fácil à conta dos pobres contribuintes.
Esta gente, da extrema esquerda à direita mais rançosa, é toda a mesma desde 1975.
Com maiores ou menores responsabilidades, são os autores da tragédia sucedida.
Todos eles estão bem na vida.
Todos têm haveres, negócios, cargos, mordomias, reformas, avenças e um sem número de fontes de receita, mais ou menos lícitas, que lhes permite viver à grande e à francesa. para pagar a festa, assalta-se os idiotas levados em excursões aos comícios, fode-se-lhes as pensões já miseráveis, acaba-se-lhes com as comparticipações na farmácia e fecham-se-lhes os hospitais. e as bestas, lá continuam a bater palmas.
Da maior dívida pública dos últimos 160 anos, da maior dívida externa dos últimos 120 anos, não há cabrão nenhum que diga uma palavra.
Devo ter sido eu o responsável!

Numa noite passada, a TVI 24 estava a passar uma peça sobre corrupção neste atoleiro.
Uma festa.
Património público vendido a preço de saldo a gente com ligações ao governo, revendido imediatamente com muitos milhões de mais valia.
O programa terminou abruptamente por quebra de sinal.
Uma pequena amostra do inimaginável saque a que esta pocilga tem sido sujeita, por parte desta gente organizada em partidos políticos, já que quadrilhas do tipo da do Zé do Telhado, estão fora de moda.

O povo, esse continua bêbado, estúpido e, infantilizado. Um excelente trabalho desenvolvido por governos e autarquias que entre o facilitismo escolar e a organização de carnavais, fez de gente normal, perfeitos quadrúpedes.

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FIDELIDADE

Porquê não se sabe ainda
mas ainda aos que amam o poeta porque ele lhes dá o livro do não trabalho
e diz cor-de-rosa diante de toda a gente
mas lhe lêem o livro só nas férias
(entre trabalho e trabalho)
e à noite vão a casas dizer cor-de-rosa em segredo a esses e ainda
aos que estudaram o problema tão a fundo
que saíram pelo outro lado
e armaram um quintal novo para as galinhas do poeta porem ovos
e disseram ao poeta estas são as nossas galinhas que tu nos deste
se elas não põem os ovos que amamos
matamos-te
e então o poeta vai e mata ele as galinhas
as suas belas galinhas de ovos de oiro
porque se transformaram em malinhas torpes
em tristes bichas operárias que cheiram a coelho

a esses e ainda
aos realmente explorados
aos realmente montes de trabalho
ou nem isso só rios
só folhas na árvore cheia do método árvore


Mário Cesariny
Pena Capital

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

QUEM MUITO VIU

Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;

e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi

não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.

Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.

Jorge de Sena
Peregrinatio ad loca infecta

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

HISTÓRIA DA MENINA LOUCA

Procuraram toda a casa, toda a terra,
Ninguém a achava.
Ela estava no telhado atrás da chaminé,
Olhava as estrelas e cantava.
Estava tão feliz e sossegada!
Olhava as estrelas e cantava.

Meu Deus, está louca!
Vamos levá-la.

Estava tão feliz!
Olhava as estrelas e cantava...

***

Dai-me, Senhor, um limite para a ambição,
Que a desmedida é grande impiedade!

Não se saber aonde se acaba
E até onde podemos nós sonhar...
Que, mesmo no sonho,
Eu quero me encontrar.

Se assim não fora,
Não poderia
Crer e amar.

***

A minha vida é poética:
Paira entre a vaga mentira e a realidade.

O amor me acontece
Como as folhas às árvores,
E tão singularmente,
Que já nem sei se é natural à árvore ter folhas
Ou estar nua...

Ana Hatherly
Um Ritmo Perdido

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terça-feira, 24 de maio de 2011

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DE «AS OBRAS DE MISERICÓRDIA» DAR BOM CONSELHO

O conselho é tocar, provar,
Aspirar todos os cheiros do inundo,
Ouvir sempre e ver eternamente,
Abrir as cinco portas; por mais só que estejas
O que entra chega bem para mil vidas.
Depois... é tê-las escancaradas
Pois nada foge e, embora
Saia e entre a cada instante tudo,
É só assim que é possível
Ter e não ter pra sempre tudo.

Casar a pobreza e a riqueza
Viver e morrer mil vezes por segundo
Mudar e ser igual no tempo todo
Cada presente ser
Passado e futuro.

Recusar é deixar;
Conceder tirar;
Tirar é pôr num outro lado;
Pôr é mover;
Mover é fixar num móvel;
Fixar seria
Mudar o futuro.
Esperar é caminhar pra ele.


José Blanc de Portugal
O Espaço Prometido

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

TOADA DE PORTALEGRE



Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Morei numa casa velha,
À qual quis como se fora
Feita para eu Morar nela...

Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- Quis-lhe bem como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego.

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De montes e de oliveiras
Ao vento suão queimada
( Lá vem o vento suão!,
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão...)
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem fôr,
Na tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela,
Tinha, então,
Por única diversão,
Uma pequena varanda
Diante de uma janela

Toda aberta ao sol que abrasa,
Ao frio que tosse e gela
E ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda
Derredor da minha casa,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos e sobreiros
Era uma bela varanda,
Naquela bela janela!

Serras deitadas nas nuvens,
Vagas e azuis da distância,
Azuis, cinzentas, lilases,
Já roxas quando mais perto,
Campos verdes e Amarelos,
Salpicados de Oliveiras,
E que o frio, ao vir, despia,
Rasava, unia
Num mesmo ar de deserto
Ou de longínquas geleiras,
Céus que lá em cima, estrelados,
Boiando em lua, ou fechados
Nos seus turbilhões de trevas,
Pareciam engolir-me
Quando, fitando-os suspenso
Daquele silêncio imenso,
Sentia o chão a fugir-me,
- Se abriam diante dela
Daquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Na casa em que morei, velha,
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
À qual quis como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego...

Ora agora,
?Que havia o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Que havia o vento suão
De se lembrar de fazer?

Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
?Que havia o vento suão
De fazer,
Senão trazer
Àquela
Minha
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
O documento maior
De que Deus
É protector
Dos seus
Que mais faz sofrer?

Lá num craveiro, que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!,
Eis que uma folha miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
Á qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...

?Como é que o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola,
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere ... e consola
Com o próprio mal que faz?

Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for
Me davam então tal vida
Em Portalegre; cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Me davam então tal vida
- Não vivida!, sim morrida
No tédio e no desespero,
No espanto e na solidão,
Que a corda dos derradeiros
Desejos dos desgraçados
Por noites do tal suão
Já varias vezes tentara
Meus dedos verdes suados...

Senão quando o amor de Deus
Ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Confia uma sementinha
Perdida entre terra e céus,
E o vento a trás à varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tôsca e bela
À qual quis como se fôra
Feita para eu morar nela!

Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acàciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu; dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério,
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus,
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...
Quem desespera dos homens,
Se a alma lhe não secou,
A tudo transfere a esperança
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar nos animais,
De humanizar coisas brutas,
E ter criancices tais,
Tais e tantas!,
Que será bom ter pudor
De as contar seja a quem for!

O amor, a amizade, e quantos
Mais sonhos de oiro eu sonhara,
Bens deste mundo!, que o mundo
Me levara,
De tal maneira me tinham,
Ao fugir-me,
Deixando só, nulo, vácuos,
A mim que tanto esperava
Ser fiel,
E forte,
E firme,
Que não era mais que morte
A vida que então vivia,
Auto-cadáver...

E era então que sucedia
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Aos pés lá da casa velha
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casa que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.

Vento suão!, obrigado...
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado
Sem eu sonhar, me chegara!

E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera.

José Régio

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

PORTO!



Dúvida? Não. Mas, luz, realidade
e sonho que, na luta, amadurece.
- O de tornar maior esta cidade.
Eis o desejo que traduz a prece.

Só quem não sente o ardor da juventude
poderá vê-la, de olhos descuidados.
Porto – palavra exacta. Nunca ilude.
Renasce, nela, a ala dos namorados!

Deram tudo por nós estes atletas.
Seu trajo tem a cor das próprias veias
e a brancura das asas dos poetas…
Ó fé de que andam nossas almas cheias!

Não há derrotas quando é firme o passo.
Ninguém fale em perder! Ninguém recua…
E a mocidade invicta em cada abraço
a si mais nos estreita. A pátria é sua.

E, de hora a hora, cresce o baluarte!
Lembro a torre dos Clérigos, às vezes…
Um anjo dá sinal quando ele parte…
São sempre heróis! São sempre portugueses!

E, azul e branca, essa bandeira avança…
Azul, branca, indomável, imortal.
Como não pôr no Porto uma esperança
se “daqui houve nome Portugal”?


Pedro Homem de Mello

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

OS VERDADEIROS FILHOS DA GRANDE P...!


Este é um aperitivo para o que aí vem depois das eleições.

Os bancos podem, a partir de hoje, agravar as taxas de juro e outros encargos dos empréstimos sempre que identifiquem "razão atendível" ou "variações de mercado" que o justifiquem, desde que cumpram um “código de boas práticas” da autoria do Banco de Portugal.

Nestas “boas práticas”, já se vê, está incluída a liberalização da alteração unilateral dos spreads dos contratos de crédito. A autorização supra tem a mesma proveniência.

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DISCURSO SOBRE O FILHO-DA-PUTA

I

o pequeno filho-da-puta

é sempre

um pequeno filho-da-puta;

mas não há filho-da-puta,

por pequeno que seja,

que não tenha

a sua própria

grandeza,

diz o pequeno filho-da-puta.



no entanto, há

filhos-da-puta

que nascem grandes

e

filhos-da-puta

que nascem pequenos,

diz o pequeno filho-da-puta.



de resto,

os filhos-da-puta

não se medem aos palmos,

diz ainda

o pequeno filho-da-puta.



o pequeno

filho-da-puta

tem uma pequena

visão das coisas

e mostra em

tudo quanto faz

e diz

que é mesmo

o pequeno filho-da-puta.



no entanto,

o pequeno filho-da-puta

tem orgulho em

ser

o pequeno filho-da-puta.



todos

os grandes filhos-da-puta

são reproduções em

ponto grande

do pequeno filho-da-puta,

diz o pequeno filho-da-puta.



dentro do

pequeno filho-da-puta

estão em ideia

todos os grandes filhos-da-puta,

diz o pequeno filho-da-puta.



tudo o que é mau

para o pequeno

é mau

para o grande filho-da-puta,

diz o pequeno filho-da-puta.



o pequeno filho-da-puta

foi concebido

pelo pequeno senhor

à sua imagem e

semelhança,

diz o pequeno filho-da-puta.



é o pequeno

filho-da-puta

que dá ao grande

tudo aquilo de que ele

precisa

para ser o grande filho-da-puta,

diz o pequeno filho-da-puta.



de resto,

o pequeno filho-da-puta vê

com bons olhos

o engrandecimento

do grande filho-da-puta:

o pequeno filho-da-puta

o pequeno senhor

Sujeito Serviçal

Simples Sobejo

ou seja, o pequeno filho-da-puta.





II



o grande filho-da-puta

também em certos casos começa

por ser

um pequeno filho-da-puta,

e não há filho-da-puta,

por pequeno que seja,

que não possa

vir a ser

um grande filho-da-puta,

diz o grande filho-da-puta.



no entanto, há

filhos-da-puta

que já nascem grandes

e

filhos-da-puta

que nascem pequenos,

diz o grande filho-da-puta.



de resto,

os filhos-da-puta

não se medem aos palmos,

diz ainda

o grande filho-da-puta.



o grande

filho-da-puta

tem uma grande

visão das coisas

e mostra em

tudo quanto faz

e diz

que é mesmo

o grande filho-da-puta.



por isso

o grande filho-da-puta

tem orgulho em

ser

o grande filho-da-puta.



todos

os pequenos filhos-da-puta

são reproduções em

ponto pequeno

do grande filho-da-puta,

diz o grande filho-da-puta.



dentro do

grande filho-da-puta

estão em ideia

todos os

pequenos filhos-da-puta,

diz o grande filho-da-puta.



tudo o que é bom

para o grande

não pode

deixar de ser igualmente bom

para os pequenos filhos-da-puta,

diz o grande filho-da-puta.



o grande filho-da-puta

foi concebido

pelo grande senhor

à sua imagem e

semelhança,

diz o grande filho-da-puta.



é o grande

filho-da-puta

que dá ao pequeno

tudo aquilo de que ele

precisa

para ser o pequeno filho-da-puta,

diz o grande filho-da-puta.



de resto,

o grande filho-da-puta vê

com bons olhos

a multipliccação

do pequeno filho-da-puta:

o grande filho-da-puta

o grande senhor

Santo e Senha

Símbolo Supremo

ou seja, o grande filho-da-puta.



Alberto Pimenta
Discurso sobre o filho-da-puta

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

É O POVO PÁ!



"(...) Actualmente, num Centro de Emprego não se encontra emprego.

Encontram-se fiscalizações sucessivas, propostas formativas muitas vezes desajustadas, encontra-se trabalho quase gratuito através dos contratos de emprego-inserção, encontram-se ameaças constantes de cortes nos subsídios. Mas não se encontra emprego. (...)"

O texto integral do manifesto da iniciativa pode ser lido aqui.


“Não aceitamos que [os centros de emprego] sejam locais onde somos ameaçados, vigiados e fiscalizados como se não ter emprego fosse um crime que nos devesse ser imputado”. Higiénica, salutar, cidadã.

A segunda iniciativa dos “É o povo, pá!” teve como objectivo dar a conhecer a quem nunca esteve desempregado como funcionam actualmente os centros de emprego.

Esta seria, já foi, uma missão a desempenhar pelos média.

O termo “ataca”, emoldurado por um par de aspas cobardes, que encontramos no título «Movimento É o povo, pá! “ataca” centros de emprego», acrescenta um inesperado segundo objectivo cumprido a esta que foi uma iniciativa absolutamente pacífica: o de sublinhar as tendências da informação que actualmente se faz em Portugal.


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ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo


Sophia de Mello Breyner Andresen
Geografia

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quarta-feira, 11 de maio de 2011

FOI VOCÊ?

SE...

Se é possível conservar a juventude
Respirando abraçado a um marco de correio;
Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu
Deixando-a em estado grave;
Se ao descer do avião a Duquesa do Quente
Pôs marfim a sorrir;
Se o Baú-Cheio tem acções nas minas de esterco;
Se na América um jovem de cem anos
Veio de longe ver o Presidente
A cavalo na mãe;
Se um bode recebe o próprio peso em aspirina
E a oferece aos hospitais do seu país;
Se o engenheiro sempre não era engenheiro
E a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços;
Se reentrante, protuberante, perturbante,
Lola domina ainda os portugueses;
Se o Jorge (o "ponto" do Jorge!) tentou beber naquela noite
O presunto de Chaves por uma palhinha
E o Eduardo não lhe ficou atrás
Ao saír com a lagosta pela trela;
Se "ninguém me ama porque tenho mau hálito
E reviro os olhos como uma parva";
Se Mimi Travessuras já não vem a Lisboa
Cantar com o Alberto...

...Acaso o nosso destino,tac!,vai mudar?

Alexandre O'Neill

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terça-feira, 10 de maio de 2011

PORTUGAL

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

*

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para ó meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...



Alexandre O'Neill
Feira Cabisbaixa

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

O PORTUGAL DE SÓCRATES VAI CADA VEZ MELHOR?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

BALADA DA AMEIXA SECA

Vai à mercearia e compra ameixa seca.
P’ra o intestino a ameixa é levada da breca!

O mal do Ocidente – quem há que não o sinta? –
é não ter a tripa sempre limpa.

Com os seus altos valores, o Ocidente
dá por demais ao dente, dá por demais ao dente.

Põe-me os olhos nos povos que só comem arroz:
dão melhores guerrilheiros do que nós.

Um saquitel de arroz, uma biciclet’,
arma na bandoleira – e lá vai o viet.

“Noss’ povo”, ao contrário, come o que apanha à mão.
Até parece fome de muita geração!

E larga, já comido, o corpo em qualquer canto.
Sonha Terceiro Mundo e é Europa, entretanto.

Encostado ao sobreiro ou ao ficheiro,
“Noss’ povo” já nada tem de marinheiro.

Sua tripa, represa, é trabalhosa.
Sua prosápia já só é má prosa.

Portugal-do-casqueiro à Europa-das-latas
manda cortiça, vinho, diplomatas.

Espera contrapartidas: sol-e-vistas
é cartaz que atrai muitos turistas.

Mas com a ameixa seca – coisa pouca! –
é que pode acordar sem amargos de boca.

Vai à mercearia e compra ameixa seca.
P’ra o intestino a ameixa é levada da breca!


Alexandre O’Neill,
As horas já de números vestidas

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terça-feira, 3 de maio de 2011

SERÁ SÓ ISTO?

78 MIL MILHÕES

DE EUROS
,

é o valor do
jackpot

que

o grande ... ... ...

nos deixa

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LUSOS HERÓIS, CADÁVERES CEDIÇOS

Lusos heróis, cadáveres cediços,
Erguei-vos dentre o pó, sombras honradas,
Surgi, vinde exercer as mãos mirradas
Nestes vis, nestes cães, nestes mestiços.

Vinde salvar destes pardais castiços
As searas de arroz, por vós ganhadas;
Mas ah! Poupai-lhe as filhas delicadas,
Que. Elas culpa não têm, têm mil feitiços.

De pavor ante vós no chão se deite
Tanto fusco rajá, tanto nababo,
E as vossas ordens, trémulo, respeite.

Vão para as várzeas, leve-os o Diabo;
Andem como os avós, sem mais enfeite
Que o langotim, diámetro do rabo.


Bocage
Rimas

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