domingo, 30 de novembro de 2008

DEBATE SOBRE NADA

Foi aprovado o Orçamento.
Logo veremos, em 2009, a sua consistência e a adequação aos tempos de crise. O debate poderia ter sido um momento propício para uma reflexão séria sobre a crise internacional e nacional. Mas não foi. A chicana é hoje o supra-sumo do pensamento político e da retórica parlamentar. Ministros e deputados aos berros, troca de culpas e de acusações fúteis: o espectáculo não faz bem à cabeça de ninguém. Sobretudo à dos que lá estão. A superioridade moral da oposição é detestável. Uns disseram mesmo que a crise portuguesa é de exclusiva responsabilidade do Primeiro-ministro e do Governo! A auto-satisfação convencida do Governo é abominável. Nunca argumenta, decreta!


O governo continua a distribuir Magalhães, na convicção, fingida ou não, de que com tal gesto está a estimular a alfabetização, a cultura, a curiosidade intelectual, o espírito profissional, a capacidade científica e a criatividade nacional. Será que nas áreas do governo e do partido não há ninguém que explique que isso não acontece assim?
Segundo a OCDE, o abandono escolar na União Europeia foi, em 2007, de cerca de 15 por cento. Portugal, com 36,3 por cento, tem a taxa mais alta. Mais de um terço da população entre 18 e 24 anos não completou a escola e não frequenta cursos de formação profissional. Só 13 por cento da população activa adulta completou o ensino secundário e perto de 57 por cento apenas terminaram o primeiro ciclo do básico.
Ainda segundo a OCDE e um estudo de Susana Jesus Santos (do banco BPI), a distribuição dos tempos de aulas nas escolas, para alunos de 9 a 11 anos, mostra como a juventude portuguesa está orientada. Em Portugal, a leitura (e o português) ocupa 11 por cento do tempo de aulas. Na União Europeia, 25. Em Portugal, a Matemática ocupa 12 por cento. Na União Europeia, 17.
Que é que o Magalhães tem a ver com isto?
Nada.
Absolutamente nada!

Segundo os trabalhos de rotina do INE e da União Europeia, o clima económico em Portugal nunca esteve, desde há dezoito anos, tão baixo como agora. Trabalhos semelhantes sugerem que as expectativas dos consumidores atingiram o mais baixo ponto desde há cinco anos.
O crescimento da economia e do produto tem vindo a diminuir todos os dias. Diminui na realidade dos factos, assim como nas estatísticas. O governo (o mais optimista...), o Banco de Portugal, a União Europeia, a OCDE e o FMI publicam regularmente as suas previsões para 2008 e 2009, baixando sempre as taxas estimadas. Em princípio, Portugal aproxima-se do zero e de taxas negativas (menos 0,2 por cento em 2009, por enquanto...) Há praticamente oito anos que o país tem visto aumentar o atraso relativamente às médias europeias.

O desemprego a subir e a atingir níveis desconhecidos há anos. A prometer ainda mais nos próximos tempos. Mais uma vez, os números são controversos: Governo, INE, Banco de Portugal, OCDE, UE e CGTP oferecem estimativas diferentes. Mas num só sentido: desemprego a aumentar.
O endividamento público líquido é de mais de 140 mil milhões de euros, muito perto dos 100 por cento do produto. Só os juros anuais pagos por essa dívida serão de cerca de 8 mil milhões de euros. Talvez 6 por cento do produto.
O défice orçamental ultrapassou as previsões, assim como as metas nacionais e europeias, tendo agora o governo de, ao contrário do que sempre afirmou, recorrer a receitas extraordinárias, no valor de mil milhões de euros, para respeitar o patamar imposto de 2,2 por cento.
O défice da Caixa Geral de Aposentações (funcionários públicos e equiparados) será, em 2008, superior a 3 mil milhões de euros, cerca de 2 por cento do produto. Era, em 2005, de 1,5 mil milhões.

Os últimos números disponíveis revelam que a emigração portuguesa retomou e faz agora lembrar alguns anos da década de sessenta. Nessa altura, a emigração era muita, mas o crescimento económico também. Hoje, a emigração é grande, mas o crescimento económico estagna. Calcula-se em cerca de 60.000 a 70.000 o número de portugueses que vão trabalhar para Espanha todos os dias ou todas as semanas, além de dezenas de milhares que já se estabeleceram definitivamente no país do lado. Com a crise económica espanhola, esperam-se tempos difíceis.
O número de imigrantes estrangeiros em Portugal está a diminuir e muitos dos que aqui viveram uns anos já se foram embora. O problema é que não são substituídos: ou não deixam postos de trabalho vagos, porque estes são extintos, ou não há portugueses que queiram ocupá-los.
As estatísticas demográficas continuam a revelar números que nos obrigariam a reflectir, mas essa não parece ser uma inclinação das autoridades. O número de óbitos já é superior ao número de nascimentos. O envelhecimento é muito rápido. A esperança de vida cresce. O número de pessoas com mais de 65 anos já é muito superior ao de jovens. E não se trata apenas de um problema de força de trabalho. Os gastos com as reformas e pensões aumentam na vertical. Mais: os custos da saúde e dos cuidados com idosos em dependência, nos últimos três ou quatro anos de vida, são iguais a toda a despesa verificada durante os 60 ou 70 anos de vida. É lógico, natural e assim terá de ser, mas a pressão criada sobre as finanças da segurança social é enorme.
Esta semana, em Viseu, numa conferência organizada pela Associação Portuguesa de Seguradores, Eugénio Ramos, especialista em questões da segurança social, resumiu em poucas palavras o que nos espera: Vamos viver mais, trabalhar mais e ganhar menos. Disto, o orçamento não fala. Nem o Parlamento.


Apostila: O julgamento dito da Casa Pia chega ao fim. Cada um terá a sua ideia. Não deve haver um português que não tenha uma certeza sobre os eventuais culpados e inocentes. Veremos brevemente o que pensam os juízes. De qualquer modo, é com tristeza que se verifica que o principal culpado nunca foi julgado e nunca o será. Refiro-me à Casa Pia, como instituição. A muitos dos seus dirigentes. A vários dos ministros, secretários de Estado e Directores-gerais que exerceram a tutela. É sabido que algumas dessas pessoas tiveram informações sobre o que se passava, mas não quiseram saber ou não puderam agir. Parece mesmo que alguns arquivaram informações e relatórios. Por outro lado, a estrutura, o modo de organização, a dimensão e o espírito daquela casa deveriam ser discutidos e postos em causa. A Casa Pia deveria, creio, ter sido extinta. E os seus alunos distribuídos por várias instituições. Quando se pode extinguir o Inferno, não basta condenar alguns diabos.


António Barreto
Público
30 de Novembro de 2008

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A ÁRDUA CIÊNCIA

Ao subir a montanha
assistimos ainda ao júbilo dos construtores.
Os seus martelos acordam em sobressalto ao
alvorecer da pedra.
O seu coração é invisível.
Vive com o meu na inocência das terras,
iniciando o alicerce.
E a pedra rasgada compõe a obra como se fosse a
terrível verdade dos salmos,
uma rima atroz.
A visão das catedrais alimenta-se da tua ira.
Tu és a arte de erguer aos céus uma palavra baixa,
murmurada rente ao chão,
esculpida em ti.

José Agostinho Baptista
Paixão e Cinzas

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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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O MAR JAZ

O mar jaz. Gemem em segredo os ventos
Em Éolo cativos,
Apenas com as pontas do tridente
Franze as águas Neptuno,
E a praia é alva e cheia de pequenos
Brilhos sob o sol claro.
Eu quisera, Neera, que o momento,
Que ora vemos, tivesse
O sentido preciso de uma frase
Visível nalgum livro.
Assim verias que certeza a minha
Quando sem te olhar digo
Que as cousas são o diálogo que os deuses
Brincam tendo connosco.
Se esta breve c
iência te coubesse,
Nunca mais julgarias
Ou solene ou ligeira a clara vida,
Mas nem leve nem grave,
Nem falsa ou certa, mas assim, divina
E plácida, e mais nada.

















Fernando Pessoa
Odes de Ricardo Reis

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

VAMOS TODOS AJUDAR A CERCIPORTALEGRE

O Projecto Gsolidário

O Gsolidário é um site de pesquisa que utiliza o motor de busca do Google. Os resultados apresentados são os mesmos resultados obtidos quando a pesquisa é feita no Google.

A diferença é que ao pesquisar no Gsolidário está a ajudar a angariar dinheiro para instituições de solidariedade social e outras entidades com o mesmo fim social.

O Gsolidário é um site independente do Google. Apesar de ser do conhecimento desta marca americana, o Projecto Gsolidário foi criado por dois jovens com o objectivo de ajudar quem mais necessita de uma forma útil aproveitando os hábitos de uma sociedade contemporânea.

O dinheiro é adquirido através dos cliques efectuados nas publicidades que são colocadas pelo Google nas margens do Gsolidário. O objectivo deste projecto é precisamente ajudar instituições de solidariedade social oferecendo o dinheiro que se angaria.

Para definir o Gsolidário como a sua página inicial clique aqui.

Fundo angariado

O dinheiro angariado será depositado na conta da instituição seleccionada sempre que o Gsolidário atingir o valor de 100 euros.


Como escolher a instituição

Quando o Gsolidário atingir o valor de 100 euros aparecerá um aviso na homepage do Gsolidário com um link que remeterá o utilizador para um espaço de votação. Os utilizadores interessados poderão votar na instituição que acham que deve merecer o dinheiro.

O espaço de votação estará aberto durante 8 dias. Posteriormente poderá ver a instituição premiada na secção Instituições. Sempre que uma instituição for premiada pelos utilizadores não poderá ser premiada nas próximas 3 votações.


Outras formas das instituições serem ajudadas

Além da votação que é feita pelos utilizadores do Gsolidário, as instituições de solidariedade poderão ser presenteadas em géneros ou em numerário pela sua participação activa no projecto Gsolidário. Entende-se por participação activa todas as actividades que promovam o Gsolidário através de newsletters, blogues, páginas Web.

A votação estará aberta durante 8 dias e todos os utilizadores poderão votar pelo menos uma vez por dia até 3 de Dezembro.



A CerciPortalegre pede a vossa participação!

Vote na CerciPortalegre e divulgue esta informação junto dos seus contactos!


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TRANSPARÊNCIA PÚBLICA II

Rendimento superior a 76 mil euros

José Rondão Almeida é aposentado da Função Pública e presidente da Câmara de Elvas, eleito pelo PS.
Na declaração entregue este ano no Tribunal Constitucional apresentou 57 522 euros como rendimentos de trabalho dependente, 7571 euros de rendimentos de capitais, 950 euros de rendimentos prediais e 10 710 euros de pensões.

Isto é, um rendimento total de 76 753 euros.
Como património imobiliário possui um prédio urbano em Évora e dois prédios rústicos em Elvas.


Correio da Manhã
27 de Novembro de 2007

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O MILITANTE

Eu sou um militante inteligente
Sem, todavia, ser dos mais capazes,
Mas basta-me colar só uns cartazes
Pra garantir os tachos cá da gente.

O meu "tachinho" deu-me o presidente
E só não estou melhor por não ter bases,
Mas aqui pouco importa o que tu fazes,
Basta, nas eleições, dizer "presente!".

A minha vida assim de papo cheio
Às vezes traz-me grandes aflições
E dores de cabeça de permeio.

Imagine o leitor (suposições)
Se, por um mero acaso ou caso feio,
O meu partido perde as eleições.

Santana-Maia Leonardo
Bocage, meu irmão

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

TRANSPARÊNCIA PÚBLICA

Mais de 57 mil euros e 311 ovelhas

José Mata Cáceres é engenheiro técnico agrário de profissão e presidente da Câmara Municipal de Portalegre, eleito pelo PSD.
Na declaração entregue este ano no Tribunal Constitucional apresentou rendimentos de trabalho dependente no valor de 57 018 euros e 8014 euros de pensões.
Além de um prédio urbano em Portalegre, o autarca declarou ainda um prédio urbano e sete rústicos em Nisa.
O autarca detém ainda 51 por cento do capital social da empresa Monforqueijo, situada em Monforte, e 20 por cento do capital social da sociedade Agro-Pecuária da Mata da Póvoa e Anexos, sediada em Castelo de Vide.
Possui ainda 537 acções do Agrupamento de Produtores Agrícolas e Florestais do Norte Alentejano (APAFNA), no valor cada uma de cinco euros.
José Mata Cáceres declarou também 311 ovelhas, 9 varrascos, 37 leitões, 19 bezerras, 11 carneiros e 20 porcas.
Correio da Manhã
26 de Novembro de 2008

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EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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ROMPIMENTO INAUGURAL

A BEM DA VERDADE deve dizer-se que os Srs. CARLOS EURICO DA COSTA, HENRIQUE RISQUES PEREIRA, FERNANDO ALVES DOS SANTOS, PEDRO OOM, MÁRIO HENRIQUE LEIRIA e ARTUR DO CRUZEIRO SEIXAS (este ausente em África) não tomaram conhecimento prévio do texto histórico que acompanha nas lombadas «A AFIXAÇÃO PROIBIDA" (o que aliás foi vulgar nos anteriores manifestos colectivos surrealistas).

O dito texto é totalmente da autoria dos Srs. ANTÓNIO MARIA LISBOA e MÁRIO CESARINY DE VASCONCELIOS, conforme originais manuscritos em poder da tipografia, os únicos que possuíam como antigos e já agora sós membros do Grupo Surrealista de Lisboa, autoridade moral para o fazer. Se os Srs. Costa, Pereira, Santos, Oom, Leiria renegaram ou não a sua obra deles, se tinham obra para renegar, se comem sopa ou comem bifes, isso é lá com eles e com quem sabe ou parece saber tanto das suas vidas. O organizador da presente edição d' "A Afixação Proibida", Sr. Luiz Pacheco, nada tem a ver com tais temas, nunca se disse surrealista (e praza a Deus que nunca o seja) e desde logo considerou o dito texto vulnerável, muito vulnerável - por unilateral (e faccioso). Mas deram-lho para publicar e publicou, como era da sua obrigação.

Entretanto, repele todas as ameaças, pressões, chantagens e mais porcarias com que por alguns dos atrás mencionados indivíduos (excepção feita para ANTÓNIO MARIA LISBOA, cuja posição um decoro mínimo OBRIGA A RESPEITAR - ouviram senhores? sois capazes disso?) tem sido assediado nos últimos dias, atitude de uma falta de humor ou de heroísmo, incompreensíveis em tipos que pareciam trazer à vida portuguesa uma mensagem do maior desassombro poético.


Lisboa, 8 de Setembro de 1953, aqui ou em qualquer parte,


SAÚDE E BICHAS


LUIZ PACHECO
Pacheco Versus Cesariny
Folhetim de Feição Epistolográfica

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terça-feira, 25 de novembro de 2008

QUAIS SÃO OS CONCELHOS DESTE DISTRITO SEM BIBLIOTECA?

Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.
Jorge Luis Borges


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EDIÇÃO DE HOJE DO JORNAL FONTE NOVA




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ELEGIA ESCRITA EM NEW ORLEANS
A 6 DE ABRIL DE 1968



A todos os negros assassinados
Humilhados e ofendidos

Hoje não estamos sós
Há cinco músicos negros tocando na noite
Hoje não estamos sós
Há um luar negro cobrindo a sucessão
Das ondas incompreensíveis
Mar de luto
Ó mar americano
De luto

Hoje não estamos sós
Há uma canção espessa
(Espessa como o sangue)
Redimindo a noite

Há cinco músicos negros

Há uma cantora negra
Sozinha na noite
No meio de nós

Hoje não estamos sós
Há cinco músicos negros tocando na noite
Irmãos da noite

Minha irmã
Meus irmãos

Alberto Lacerda
Oferenda II

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

POESIA INCOMPLETA


Nasceu em Lisboa, esta segunda-feira, a primeira livraria dedicada em exclusivo à poesia.
O proprietário da Poesia incompleta propõe-se vender livros novos, raros e esgotados de centenas de poetas em mais de 20 línguas

Mário Guerra, Changuito, é filho de Mário Alberto e de Maria do Céu Guerra, o proprietário da nova livraria, que também se assume como empregado, leitor e senhora da limpeza, explicou à TSF que a ideia de abrir um estabelecimento de venda exclusiva de poesia surgiu de uma vontade de reunir no mesmo espaço a mais alta produção poética literária portuguesa e estrangeira.

Questionado sobre se se sente louco por apostar num espaço só de poesia, Mário Guerra ironizou que se fosse maluco, teria ido trabalhar para o BPN, banco onde recentemente foram detectadas várias irregularidades.

O proprietário da Poesia incompleta esclareceu que decidiu avançar com o projecto de uma forma o mais despretensiosa possível, mas também com ambição, já que a livraria tem de se sustentar a si própria.

Mário Guerra defendeu ainda a lógica do seu projecto, lembrando a quantidade de poesia que existe em Portugal.
Se o hábito das pessoas passar por esta livraria, eu tenho o futuro dos meus bisnetos assegurado, acrescentou.

A Poesia incompleta situa-se no nº 11 na Rua Cecílio de Sousa, no Bairro Alto, entre a zona do Príncipe Real e a Praça de Flores, junto à Assembleia da República.


TSF
Blogue da Livraria:Poesia Incompleta

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TEOREMA

Diante do espelho vê rostos além do seu
e a loucura é reconhecê-los entre os mortais
esses rostos silenciosos e esquivos
tão fácil seria chamá-los
celestes

Mas ela era terrena tão por terra
conduzia a ondulação dos sentimentos
não a entendem?
Ela deixava quebrar os vasos só para os ouvir
porque tudo tem uma voz mesmo as coisas mudas
e o silêncio é uma ímpia forma de desobediência
Ela marcava um por um
Umbrais códices colheres
Para que tudo estivesse unido
Sob o frio ordenado do visível

De noite porém afundava-se no lago
e lá adormecia
De noite levava a espingarda à janela
e ficava a ouvir não os tiros
mas o incrível silêncio que sucede a cada tiro
De noite dizia-se vacilante e perdida

Depois vinha o dia e a rasura
a repetida ordenação que os acentos concedem
às palavras
a quase paixão que jamais tocava os seres
sempre só a sua representação

José Tolentino Mendonça
Longe Não Sabia

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domingo, 23 de novembro de 2008

POR EXEMPLO

A escola Adriano Zenão, pública, tem cerca de 500 alunos do ensino básico e secundário. Pertence à autarquia. O director da escola, Dr. Fabrício, é gestor, especialista em administração escolar e principal responsável pela escola. Foi nomeado pelo Conselho Escolar, sendo este composto por um terço de professores, um terço de pais de alunos e um terço de membros da comunidade (autarcas, empresários e outros). O contrato do director tem a duração de cinco anos e pode ser renovado. A sua nomeação ocorreu após um processo de selecção iniciado um ano antes. A aprovação do seu contrato teve de obter pelo menos dois terços dos votos do Conselho Escolar. O director é assessorado pelo Conselho de Gestão, formado por ele, um técnico e dois professores. Estes três membros do conselho de gestão foram nomeados, sob proposta sua, pelo Conselho Escolar. O Conselho Pedagógico, formado por cinco professores, ocupa-se das matérias exclusivamente desse foro. Há vários planos, muito flexíveis, de organização dos docentes por turma, ano ou disciplina, de modo a permitir a boa informação e a coordenação de certos assuntos. O Conselho Disciplinar é formado pelo director, um professor e um membro da Associação de Pais. O Regulamento disciplinar é elaborado pelo director da escola e aprovado pelo Conselho Escolar. Este último, presidido pelo Dr. Julião Bruno, representante da Associação de Pais, nomeia o director e aprova os orçamentos e relatórios anuais, o plano estratégico de desenvolvimento e os regulamentos, mas não interfere no dia-a-dia da escola, nem nos processos de avaliação ou de recrutamento. Este foi o modelo próprio, construído pela escola. É diferente do de outras e parecido com o de umas tantas.

O Ministério da Educação não tem qualquer intervenção directa na escola. Mas os seus inspectores visitam-na duas vezes por ano e elaboram relatórios que entregam ao Ministério e à autarquia. Além disso, o Ministério estabelece o currículo nacional que ocupa cerca de 75 por cento das matérias disciplinares. Os restantes 25 por cento são decididos pelo conselho escolar, sob proposta do conselho pedagógico. Para as disciplinas do currículo nacional, a escola organiza os exames de acordo com as regras gerais em vigor para todo o país. Mas a avaliação permanente dos alunos, com ou sem exames, depende exclusivamente da escola que aplica os métodos que julga mais convenientes. O Ministério da Educação tem ainda a responsabilidade de estabelecer anualmente os rankings das escolas. Por outro lado, pode intervir, com poderes excepcionais, cada vez que se verifique, na escola e na autarquia, uma crise irremediável de que os alunos são as primeiras vítimas.

O financiamento público é garantido pelo Ministério, através da autarquia, no quadro de um plano trienal. A escola recebe um orçamento anual, que tem de gerir livremente, não podendo jamais ultrapassar as verbas atribuídas, pois o Ministério está proibido de acrescentar o que quer que seja. A autarquia tem a seu cargo as despesas extraordinárias e imprevistas. A comunidade, sobretudo as empresas, contribui igualmente. Os empregadores da região fazem sugestões sobre cursos e especialidades que a escola pode criar e que têm utilidade para as actividades locais. As despesas de carácter social (bolsas de estudo, apoios alimentares e outros subsídios) dependem da autarquia, que recorre a fundos próprios e a dotações do Instituto de Acção Social.

Os professores, várias dezenas, pertencem aos quadros da escola. A quase totalidade exerce lá a sua profissão há mais de três anos. Muitos fazem-no há mais de quinze. Os novos professores são recrutados anualmente pela escola, seja através de concursos específicos, seja, em certos casos, directa e pessoalmente. Os novos contratos, com duração nunca inferior a três anos (a não ser a pedido do professor e em caso de emergência), são aprovados pelo Conselho de Gestão, sob proposta do director. Após os primeiros contratos cumpridos, os professores podem obter a nomeação definitiva, tendo para isso que prestar provas. A avaliação dos professores é feita regularmente e ao longo de todo o ano pelo Conselho Pedagógico, pelo Conselho de Gestão e pelo Director. Do processo de cada professor podem constar elementos com origem diversa, incluindo apreciações do Conselho Escolar e dos Inspectores do Ministério, assim como os resultados das provas prestadas e o registo de assiduidade. Esta avaliação, permanente, exclui as grelhas, os projectos individuais e outros formulários abstrusos. Cada professor redige um relatório anual das suas actividades e dos seus resultados, a que acrescenta uns parágrafos com sugestões de melhoramento e opiniões sobre o funcionamento da escola. A decisão última relativa à avaliação depende do Director da Escola.

Há várias modalidades de participação dos pais, seja através dos órgãos representativos, com funções e poderes reais, seja por intermédio das reuniões com os professores, regulares mas relativamente informais, durante as quais se tratam dos múltiplos problemas da vida quotidiana da escola e dos alunos. Os professores dedicam umas horas por mês a receber individualmente os pais. Os representantes dos pais participam necessariamente na organização de vários aspectos da vida da escola relativos à saúde, ao desporto, à alimentação, à cultura e a outras actividades culturais. A escola fica aberta todos os dias até às 19.00, por vezes 20.00 horas, mantendo em funcionamento, até essa altura, a biblioteca, as oficinas tecnológicas, as salas de estudo, as instalações desportivas e as salas destinadas à música e ao teatro. Por vezes, para certas actividades extracurriculares, a escola fica aberta até às 22.00 horas.

Parece difícil, não parece? Mas não é.


António Barreto
Público
23 de Novembro de 2008

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ESCREVO-TE CARTAS...

escrevo-te cartas que nunca irás receber.
a morada desaparece
sempre que tentamos encontrar
não uma porta, mas uma casa inteira.
desligo tudo dentro deste quarto.
ouço, incompleto, - com a janela
entreaberta ao fresco da noite –
cada pequeno ruído,
como se fosse um código para nos entendermos.

carregas contigo o peso da noite que não termina.
que maior peso poderias suportar?
o silêncio retalha-nos,
sempre que tentamos suturar as feridas.
como a água do mar?
repuxa-nos a pele,
para que possamos sará-la.

todas as cartas te pertencem.
sobre a mesa,
sem selo nem endereço.
chegarão, com certeza.
não ao destino.
mas à residência da primeira palavra.

reservo esta frase
para esse ponto no horizonte onde fixas os olhos.
escondo(-me).
as árvores do jardim
fazem o mesmo à cidade.
não consigo esquecer
a estrada em frente.

como os plátanos, escondo uma viagem.
por terminar.
o automóvel avança.
o ponto de fuga não prolonga o horizonte.
apenas suspende essa imagem –
por revelar.

nenhuma melodia
é possível perante a noite.
embora tente criá-la em todos os momentos.
procuro reconstituir, na água,
essa pauta desaparecida no início.

encontras
no corpo
o trajecto possível
para decompores a noite.
movimento e repouso
sucedem-se.
a respiração
tenta dissolver a viagem.
a primeira etapa não terminou
ainda.

(...)


Ruy Ventura
Sete Capítulos do Mundo

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

MAIS UMA DA CORJA DE VIGARISTAS ...


O Partido Socialista inviabilizou a audição do Dr. Dias Loureiro na Assembleia da República sobre as eventuais fraudes e crimes praticados por alguém no BPN.
Veja-se aqui:O PS está aqui [BPN] com uma cortina de fumo que ninguém entende
Porquê?
A Assembleia da República é o local , político, próprio para serem ouvidos vários indivíduos no caso BPN.
Entre os quais o Dr. Dias Loureiro, actual Conselheiro de Estado, ex-Ministro e que teve uma passagem pelo BPN.
A situação estava tanto mais facilitada quanto é certo que o Dr. Dias Loureiro mostrou disponibilidade.
O Partido Socialista parece ter medo, estar profundamente receoso do caso BPN.
Porquê?
Nos Estados Unidos da América (EUA) é normal que no âmbito de vários escândalos responsáveis pelos organismos públicos , ou bancos, sejam ouvidos no Congresso.
É muito estranha a posição do PS, porque parece que foi ele o único a inviabilizar a audição do Dr. Dias Loureiro.
Não colhe o argumento, meramente eufemistico, do PS segundo o qual o assunto está nos tribunais.
Já vimos o PS ter outras atitudes na Assembleia da República.
O POVO PORTUGUÊS , no qual reside a soberania, está estupefacto e ansioso para saber o que se passou e como são gastos os dinheiros públicos.
O Povo que emigra , o Povo que passa fome, o Povo que trabalha honestamente e só vê golpadas .
O Povo está a pensar que vários individuos que exerceram cargos políticos, de grande destaque , praticaram crimes no âmbito do BPN. Individuos de vários partidos.
Não sei o que o Dr. Dias Loureiro quer dizer , mas entendo que está determinado a revelar a sua versão, na Assembleia da República.
O que é de grande relevância ética, porque não se esconde em qualquer Templo Maçónico, por exemplo no do GOL e no seu secretismo para falar.
Quer ir à Assembleia da República.
Vai correndo entre o Povo a informação que há um individuo de nome António Silva, que terá dado uma golpada no BPN num negócio da Marina de Albufeira.
Milhões de euros, diz-se nos mentideros. Ou como diziam os romanos Fama est.
Não sei quem é , mas parece que há alguém com pinças muito delicadas a tentar gerir a situação, para não causar problemas.

Quem é esse António Silva?

Será que o Dr. Dias Loureiro sabe algo desse tal António Silva e dos milhões da Marina de Albufeira e não é conveniente isso vir à tona de água?
A atitude do PS e a cambalhota do Governo no caso da avaliação de professores, mais a pressãozinha do Presidente da República, logo tratada numa grande envolvência mediática no dia de hoje, deixa-nos intrigados.
É muito triste ver como a Democracia portuguesa se porta, como é diferente o sistema do dos nossos parceiros europeus...
Não me parece que a atitude do PS seja a mais condizente com o respeito que o Povo merece.
Respeito intelectual e respeito político.
Porquê a atitude do Partido Socialista?

Terá isto tudo algo a ver com a situação do caso Freeport e a investigação da polícia britânica?
A propósito, qual é o escritório de advogados que terá recebido os 4 milhões de contos das luvas do negócio Freeport que os serviços policiais britânicos descobriram?

E quem é o político envolvido?

O BPN terá também sido usado?


J.M.M.

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EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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CRISFAL

...

Dizer o que ele sentia,
em que queira, não me atrevo,
nem o chorar que fazia;
mas as palavras que escrevo
são as que ele dezia.
Ali sobre üa ribeira
de mui alta penedia,
donde a água d'alto caía,
dizendo desta maneira
estava a noite e o dia:

«Os tempos mudam ventura
bem o sei, pelo passar;
mas, por minha gram tristura,
nenhuns puderam mudar
a minha desaventura.
Não mudam tempos nem anos
ao triste a tristeza;
antes tenho por certeza
que o longo uso dos danos
se converte em natureza.

Coitado de mim, cuitado
pois meu mal não se amansa
com choro nem com cuidado!
Quem diz que o chorar descansa
é de ter pouco chorado;
que, quando as lágrimas são
por igual da causa delas,
virá descanso por elas;
mas como descansar hão
pois que são mais as querelas?

Com tudo, olhos de quem
não vive fazendo al,
chorai mais que os de ninguém,
que o que é para maior mal
tenho já para maior bem.
Lágrimas, manso e manso,
prossigam em seu ofício;
que não façam beneficio :
não servindo de descanso,
servirão de sacrefício.

...















Cristóvão Falcão de Sousa

Fragmento da écloga Crisfal

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

AS CAUSAS...

"Em vez de ensinarem, as escolas estão a produzir analfabetos literários e científicos. Sem Português e Matemática, que são ferramentas transversais para todos os demais saberes, não se pode ser bom em nada. A falta de educação pré-escolar digna desse nome, a elementarização do ensino básico (de onde se sai a mal saber ler e escrever e sem saber fazer quaisquer contas), a infantilização do ensino secundário, manuais escolares deficientes, pedagogias laxistas, professores incompetentes e sem a preparação adequada, ausência de uma cultura de rigor e de exigência de avaliação, o horror às reprovações, tudo isto e mais alguma coisa está a fazer do nosso ensino um escandaloso descalabro.
É precisa uma revolução. É o futuro do País que está em causa."

Quem escreveu isto, em Janeiro de 2004, intitulou o postal O Desastre.

Passados quase cinco anos, já poderia escrever, A Tragédia.

Em vez disso, anda a escreve epifanias e incentivos ao mais despudorado autoritarismo de maioria absoluta.
Nem uma palavra a propósito do
horror ás reprovações.

Não convém ser coerente, em tempo de poder.


J.

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RIFÃO QUOTIDIANO

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece


Mário Henrique Leiria
Contos do Gin-Tónico

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

MAIS UM SERVIÇO DO GOOGLE

O Google publicou hoje o arquivo fotográfico da revista Life, disponibilizando publicamente um dos maiores acervos fotojornalísticos de todo o mundo.
São mais de 10 milhões de fotos e ilustrações desde 1750 até 1970.
A página de abertura da colecção explica como é que se pode pesquisar as fotos por tema.



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EDIÇÃO DE HOJE DO ALTO ALENTEJO


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TENHO A CERTEZA DE QUE ENTRE NÓS TUDO ACABOU

Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
Deixal-o!
Bemdita seja a tristesa!
- Não ha bem que sempre dure
E o meu bem pouco durou.

Não levantes os teus braços,
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
- Vou deixar-te... vou partir.

E se um dia te lembrares,
Dos meus olhos côr de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade,
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
N'aquella tarde cinzenta...

Adeus!

Quem fica soffre bem sei;
Mas soffre mais quem se ausenta!...

António Botto
Canções

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

POR ESTE ANDAR, NÃO CHEGA ÀS ELEIÇÕES !

MÁFIA SOCIALISTA ...

O objectivo agora é trocar formalmente as informações recolhidas, de forma a perceber se houve ou não o pagamento de luvas milionárias – estimadas em quatro milhões – pelo licenciamento de construção do empreendimento Freeport, em Alcochete, decidida no último Conselho de Ministros do governo de António Guterres e quando José Sócrates era o titular da pasta do Ambiente.

Correio da Manhã


Este caso, com longuíssimas barbas, que já deu origem a processos judiciais contra o jornal que o divulgou e contra o agente da judiciária que alegadamente forneceu a informação, que motivou um desmentido inédito da polícia judiciária e que tem mais algumas doses de folclore tem de ser esclarecido - por um sistema de justiça habitualmente pantomineiro quando se trata de gente importante - muito rapidamente!
São demasiadas as situações que envolvem o engenheiro em actividades ou situações obscuras e incompatíveis com quem ocupa cargos de poder!!!

L.

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EDIÇÃO DE HOJE DO JORNAL FONTE NOVA


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UMA CANTIGA DE DESEMPREGO

Fumo um cigarro deitado
no mês de Janeiro
fecho a cortina da vida
espreguiço em Fevereiro
e procuro trabalho
nesta esperança de Março

já me farta de tanto Abril
e aquilo que não faço
espreito por um funil
a promessa de Maio
porque esperar prometido
nessa eu já não caio

queimo os dias de Junho
no sol quente de Julho
esfrego as mãos de contente
num sorriso de entulho
para teu grande desgosto
janto contigo em silêncio
e lentamente esquecido
digo-te adeus em Agosto
meu Setembro perdido
numa esquina que eu roço
e penso em Outubro
o menos que posso

mas quando sinto a verdade
daquilo que cansa
nunca houve vontade
do tempo de andança
sinto força em Novembro
juro luta em Dezembro

C. Fausto Bordalo G. Dias
Madrugada dos Trapeiro

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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PORTALEGE - SAÚDE - MAIS UMA DE MUITAS, MUITAS, MUITAS, ...


Morreu à

espera

na

Urgência

do hospital

de

Portalegre





Uma mulher de 70 anos, Rita Mourato, que sofria de doença crónica no intestino, morreu ontem no Hospital de Portalegre depois de ter estado mais de quatro horas à espera de ser atendida na Urgência da unidade. O avançado estado de desidratação, provocado pelas sucessivas diarreias e vómitos de que foi vítima na última semana, poderão ter causado a morte.

Amigos e família apontam culpas ao enfermeiro que estava responsável na tarde de sábado pela triagem dos doentes na Urgência. Segundo Lourenço Fura, que acompanhou Rita Mourato até ao hospital, o técnico não soube avaliar o estado de saúde da doente. "Se não tinha a certeza da gravidade devia ter pedido auxílio a um médico. Atribuiu-lhe a senha amarela [urgente] quando devia ter dado a vermelha [emergente], uma vez que quando entrou no hospital, pelas 16h15, já estava a desfalecer. Sem forças, teve de ser transportada numa cadeira de rodas e quase já não falava", referiu.

Com o serviço de Urgência a registar na altura uma afluência considerável, a doente esperou quatro horas e meia por assistência. "Foi atendida por uma médica atenciosa e que tomou todas as providências", salientou Lourenço.

Rita Mourato, viúva e residente em Reguengo, ficou internada mas acabou por falecer na madrugada de ontem, cerca das 03h00. "Se tivesse sido medicada e hidratada quando entrou no hospital talvez não tivesse morrido", lamentam os amigos de Rita Mourato.

Os problemas de saúde da idosa, que sofria de colite intestinal, agravaram-se na quarta-feira. Nesse dia foi observada no Centro de Saúde e regressou a casa com medicação.

Correio da Manhã
17-Novembro-2008

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OS PUTOS JÁ GANHARAM A BATALHA...

CASA ABANDONADA

Minha saudade não larga
Certa casa abandonada.
E sinto, na boca, amarga,
Essa lágrima chorada
Quando a deixei...

Caía, de leve, a tarde...
E, olhando para trás, vi
Aquela porta fechada.

Nesse momento, senti
Pesar-me a fatalidade
De toda a Vida passada.

Arde
Ainda, nos meus olhos,
A luz do sol que brilhava
Na janela.
Era uma luz amarela;
Uma luz de fim da tarde
Que ainda trago nos olhos...

Ficava ali,
Por detrás da porta verde,
Tudo o que a vida nos perde,
Enquanto nos vai gastando...

E triste e só me parti;
Quem sabe que outros Destinos,
Dolorosos ou divinos,
Procurando...

Francisco Bugalho
Margens

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domingo, 16 de novembro de 2008

OS TRÊS PODERES

Duas teimosias. Dois fanatismos. Nos actuais termos, a guerra das escolas não tem saída. Mesmo que esta ministra consiga, pela lei da força, uma qualquer vantagem, terá, a prazo, uma grande derrota.

Os professores, de futuro, não farão o que ela hoje pretende. Aliás, muitos já o não fazem. O próximo ministro da educação, até do mesmo partido, terá necessidade de alterar muita coisa e procurar um novo pacto. Se for de outro partido, a primeira coisa que fará será alterar este quadro legal e as práticas que são hoje impostas. Nas próximas eleições, poderá ver-se na campanha e nos respectivos programas: todos, com excepção do PS, vão sugerir a revogação das actuais leis e os mais imaginativos acabarão por propor um novo sistema de avaliação. O próprio PS fará uns ajustamentos...

Não se trata apenas de teimosia. Muito menos da força da razão. Há muito mais do que isso. A começar pela ideia de imagem, um dos maiores venenos da política contemporânea. Não se pode perder a face. Não se desiste. Não se devem reconhecer erros maiores. Não é bem visto recuar. A insistência, mesmo no erro, é sinal de carácter. Estes são alguns dos sentimentos que passam pela cabeça dos governantes e dos dirigentes dos sindicatos. Mas há mais. O governo recorda com especial carinho o episódio de Souselas. Já ninguém se lembra, mas Sócrates não esquece. Foi essa história menor da política portuguesa que criou Sócrates e lhe ofereceu um trampolim para o lugar que hoje ocupa. Nunca ceder, ir até ao fim, são imperativos.

Mas a superfície não explica tudo. Estas batalhas não se limitam a estilos e imagens. Está em curso uma luta entre três poderes. Luta verdadeira, de cujo resultado vai depender o futuro da educação e da escola. Quais são esses poderes? Em primeiro lugar, o do ministério (ou do governo), em tentativa de reforço e consolidação. Segundo, o dos professores, em queda. Terceiro, o da escola, largamente fictício.

O governo quer centralizar ainda mais o sistema educativo, deseja reafirmar o seu poder sobre a escola e sobre os professores e pretende uniformizar regras e critérios. Procura manter as autarquias sob a sua alçada e transformar os professores em verdadeiro regimento fabril ou militar. Entende que, obedientes, as escolas e os professores darão melhor contributo para as suas estatísticas. De passagem, tem outros objectivos, eventualmente mais nobres: poupar dinheiro e obrigar os professores a trabalhar mais.

Os professores, tanto os movimentos como os sindicatos, não querem ser esbulhados da enorme parcela de poder que as reformas lhes deram durante as últimas décadas. Como não querem ser obrigados a seguir as ordens regimentais e as enxurradas de directivas que o ministério lhes envia regularmente. Não querem ver as suas carreiras transformadas em função burocrática e automática. Não desejam ser avaliados. Não querem perder os privilégios que os sucessivos governos e as modas pedagógicas lhes conferiram. Não aceitam ser, além de parte interessada, juízes, fiscais e polícias em nome do ministério que abominam. E não querem ser cúmplices desta nova ordem burocrática que se anuncia.

Quanto às escolas, coitadas! Não têm porta-voz, praticamente não existem como instituição. Não cultivam espírito de corpo. Não têm meios. Não têm relações verdadeiras e genuínas com os pais, nem com as comunidades. Não são entidades autónomas, com identidade e carácter. São fortalezas dos professores ou repartições do ministério. Não têm nada a perder com esta guerra, pela simples razão de que nada têm.

A ministra tem algumas razões. Mais trabalho, por parte de alguns que folgam. Um qualquer princípio de avaliação. Poupar recursos e dinheiro. E impedir que todos os professores tenham sempre as classificações de muito bom e excelente, pragas conhecidas em toda a função pública. Mas o Inferno está no pormenor. Como sempre. Os jornais já publicaram mil pormenores sobre o sistema de avaliação, dos formulários às regras e procedimentos. O escárnio é constante. A ministra queixa-se de que o seu sábio sistema foi ridicularizado! É verdade. Mas não merece menos do que isso. Além de absurdo e inútil, este exercício parece uma punição, a fazer lembrar os castigos infligidos, por praxe sádica ou despotismo, nas forças armadas de muitos países. Não é só este sistema que está errado: é o princípio mesmo de uma avaliação centralizada, de âmbito nacional e uniforme.

A avaliação ministerial, burocrática, formal e pseudocientífica é um enorme erro. A grande tradição centralista, integrada e unificada da educação pública em Portugal é responsável pela mediocridade de resultados e pelo desperdício de enormes recursos financeiros vertidos, desde há trinta anos, por cima do sistema, sem resultados proporcionais. É essa tradição que é responsável pela ausência de espírito comunitário nas nossas escolas. Pelo desdém que as autarquias dedicam às escolas. Pela apatia e impotência dos pais. Pelo facto de tantos professores desistirem do orgulho nas suas carreiras e do brio no exercício da sua profissão. É provável que muitos não queiram trabalhar quanto devem ou que tenham outros interesses. Como em todas as profissões. Mas o seu sentimento de dignidade ferida parece genuíno. E é compreensível.

São quase misteriosas as razões pelas quais não se permite que sejam as escolas, os seus directores e os seus conselhos de direcção, ajudados pela comunidade e pelos pais, a avaliar a escola no seu conjunto. E não se deixam os responsáveis das escolas observar e avaliar o desempenho profissional dos docentes. A República, o Estado Novo, a democracia, o socialismo e o comunismo coligam-se facilmente para manter a escola sob o punho do ministério, cuja proverbial incompetência é uma das raras constantes na história do século XX. Entre o ministério e o sindicato, parece haver terra queimada, campo de batalha. Não terão percebido os professores, desta vez, que a autoridade do ministério é o pior que lhes pode acontecer? Apetece dizer que chegou a hora de sair deste impasse, de quebrar a tenaz dos dois fanatismos. Uma visão optimista levar-nos-ia a pensar que, finalmente, os professores perceberam que a autoridade da escola pode ser a solução. Dá vontade de acreditar que este é o momento de deixar de escolher entre a guerra e a peste. Mas a esperança numa solução sensata e num esforço de imaginação criativa, em vésperas de eleições, é uma doença grave.
Livremo-nos, ao menos, dessa.


António Barreto
Público
16 de Novembro de 2008

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QUE FAREI NO OUTONO QUANDO TUDO ARDE

Que farei no outono quando ardem
as aves e as folhas e se chove
é sobre o corpo descoberto que arde
a água do outono

Que faremos do corpo e da vontade
de o submeter ao fogo do outono
quando o corpo se queima e quando o sono
sob o rumor da chuva se desfaz

Tudo desaparece sob o fogo
tudo se queima tudo prende a sua
secura ao fogo e cada corpo vai-se

prendendo ao fogo raso
pois só pode
arder imerso quando tudo arde

Gastão Cruz
As Aves

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sábado, 15 de novembro de 2008

O OVO

IDENTIDADE

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço


Mia Couto
Raiz de Orvalho e Outros Poemas

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

BURROS, BURROS, BURROS E FORRADOS DO MESMO, ESTES SOCIALISTAS ! ( II )

EDIÇÃO DE HOJE/AMANHÃ DO JORNAL FONTE NOVA


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BURROS, BURROS, BURROS E FORRADOS DO MESMO, ESTES SOCIALISTAS !

A contestação desta equipa da Educação, já chegou aos alunos do ensino básico.
Trágico.
Tão trágico que Vitalino Canas, o atarantado porta-voz do PS, acha que só pode ser tangida pelos grupos radicais.

O que são grupos radicais?
Qualquer coisa que o Ministério da Educação, o porta-voz do PS ( onde a coisa já vai...) e o Governo, tudo junto, não entendem. Coisas marginais, de extremistas, atiradores de ovos e tomates. Em resumo e como definiu o escriba da causa, "a manada".

Perderam o controlo, é o que é.
Já não sabem o que fazer.
Nem o que dizer, com um mínimo de senso.
As causas estão perdidas.

J.

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